As guerras servem, antes de mais nada, para limpeza. Varrem para sete palmos abaixo do tapete, os indesejáveis de ambos - ou de todos - os lados.
As guerras coloniais até o início do século 19, quando a Inglaterra tornou-se o império onde o sol nunca se punha, ainda travadas no corpo-a-corpo, produziam corpos empilháveis em, literalmente, campos de batalha.
A guerra civil americana foi, lentamente, trazendo as novas maravilhas tecnológicas para a morte em escala, potencializadas já no início do século passado quando foi inaugurada a modalidade "guerra mundial" pelo imperialismo sem fronteiras (sempre tive alguma dificuldade para entender essa classificação. Afinal, quando o mundo era bem menor geopoliticamente falando, digamos, à época da disputa de hegemonia entre atenienses e espartanos pelo então futuro mare nostrum latino, a Guerra do Peloponeso foi ou não foi uma guerra mundial?)
Bom, vá lá. A Primeira Guerra Mundial, inaugurada exatos cem anos atrás como decorrência de atos de terrorismo que tinham absolutamente tudo para dar errado - Gavrilo Princip que o diga, projetou (sem trocadilhos), a guerra digital tal como a conhecemos hoje. Dos mais de cinquenta milhões de vítimas da - vá lá - Segunda Grande Guerra à Operação Tempestade No Deserto, passando por Vietnã e "Guerra" do Iraque, assistimos impávidos à desnaturalização do propriamente humano, do intrinsecamente humano, reduzido a dados estatísticos e gráficos de desempenho na arte de aniquilar eletronicamente.
Quando a racionalidade instrumental permite massacres via drones e outras entidades corpóreas mas desalmadas, como processar a dor de pais e mães vitimados pelos teleguiados por calor e movimento?
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